quinta-feira, 30 de agosto de 2012

JOSÉ ROSA: O TENOR PORTUGUÊS E SALAZAR

O TENOR JOSÉ ROSA E SALAZAR


As anteriores referências a cantores líricos estrangeiros (destaque para o tenor Pavarotti, recentemente) podem e devem suscitar a questão dos valores nacionais. Porque os temos, porque os tivemos.
Aproveitamos, então, para deixar uma referência tão breve quanto escassa é a informação obtida ao longo do tempo.
José Rosa (1895 - 1939) descendia de uma família de Vila Viçosa, que cultivava o canto e a música. É natural, então, que se torne violinista e que os seus dotes vocais o tornem num apreciado cantor lírirco (tenor) - coisas fugazes, aliás, já que faleceu pelos 44 anos. Casou com a harpista Branca Belo de Carvalho Rosa (1906 - 1940), de quem deixou a filha Clotilde Rosa, órfã de pai e mãe pelos 10 anos, que viria a dedicar-se particularmente à harpa. Já seu avô paterno, de nome José Maria Rosa (Sousel), fora um reputado professor, pianista e organista.
Da escassa bibliografia, respigamos um artigo de João de Figueiredo, publicado na edição n.º 112, de 16 de Agosto de 1930, da Ilustração Portuguesa. Citando Berlioz e referindo-se a José Rosa, escreveu que "pertence ao número dos raros artistas executantes pelos quais a arte existe, e não ao número muito maior daqueles pelos quais a arte morre".
O pedido de apoio a Salazar
Passados cerca de 60 anos, é Mário Vieira de Carvalho (1) que nos relata um triste episódio envolvendo António de Oliveira Salazar (educado nos Jesuítas):
«Um grupo de amigos do saudoso tenor José Rosa, no louvável desejo de o levar para Milão, a fim de concluir um curso de canto, procurou o apoio de Salazar - então, ministro das Finanças. O ministro recebeu a Comissão amavelmente - recebeu-a e ouviu-a com a maior atenção. No fim, penalizado, responde-lhe: "Não posso fazer nada. Se não tenho para dar aos que choram - como hei-de dar aos que cantam?"».
A crueldade, a frieza e o cinismo da resposta não são comentáveis.
Afinal, ao longo do Estado Novo (salvo períodos de excepção) o Teatro de São Carlos viria a gastar muito dinheiro ao erário público. A ópera era para as elites e, afinal, houve dinheiro para pagar aos cantores estrangeiros que vieram actuar a Lisboa.
Poderíamos falar da "Sala de Visitas" em que António Ferro e Salazar pretendiam transformar São Carlos. Também poderíamos falar do grupo "Verde Gaio". Lá iremos, ou não.

Outros cantores
Claro que também seria importante lembrar o tenor Tomás Alcaide (1901 - 1967); idem para o barítono José Fardilha (n. 1956), que vimos em 1982, em Lisboa, e que hoje só poderemos ver no estrangeiro (em quase todo o mundo, da Itália à China). Alternativamente, se for pago adequadamente, até poderá vir cantar ao seu país.

A vida é passageira, efémera e fugaz. Infelizmente, José Rosa faleceu em 12 de Março de 1939, e Salazar em 27 de Julho de 1970.

     Manuel Paula Maça
manoel.maza@gmail.com

(1) Mário Vieira de Carvalho, O Teatro de São Carlos, Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 1993.

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domingo, 26 de agosto de 2012

LUCIANO PAVAROTTI: MEMÓRIA DE UM TENOR

RECORDAR LUCIANO PAVAROTTI

O texto "entre aspas" (a seguir) foi retirado do site do Canal História, onde hoje, Domingo, pelas 23:30 h, passsará um programa acerca do tenor Luciano Pavarotti, falecido em 6 de Setembro de 2007.
Amanhã, segunda-feira, dia 27 de Agosto, o programa voltará ao ecrã, pelas 6, pelas 9 e pelas 16:30h.
Esperamos que o homem e o cantor saiam valorizados, passe a subjectividade a que está sujeita a avaliação.
"Luciano Pavarotti foi provavelmente o cantor de ópera mais famoso dos nossos dias. Nenhum tenor recente teve tanto êxito, carisma e estilo, nem tantos admiradores; e certamente que também não protagonizou tantos escândalos nas capas da imprensa. Este espaço faz um repasse à sua vida, desde a sua extraordinária ascensão a partir de origens humildes, até à sua trágica morte. Durante o percurso seremos testemunhas da adulação do seu público, a sua airosa vida amorosa, a sua batalha contra a balança, o seu turbulento divórcio depois de 35 anos de relação, e de um novo casamento com a sua secretária e amante, muito mais jovem do que ele. Testemunhos de amigos, familiares e colegas desenham um retrato do tenor cheio de matizes".


Deixamos um texto oportunamente publicado.

PAVAROTTI: A IMORTALIDADE RELATIVA DE UM TENOR



O cantor lírico Luciano Pavarotti faleceu a 6 de Setembro, em Modena, Itália. Tinha 71 anos. Um cancro no pâncreas não é boa coisa, e o cantor acabou por ceder à morte, na sua terra natal, onde começara a vida como ajudante de padeiro e agente de seguros. Também foi professor do ensino básico.

Não arriscaremos opinar sobre quem foi o maior tenor do século XX, porque no teatro lírico não basta cantar bem. Enquanto actor, cabe ao cantor conferir acção ao papel e autenticidade ao personagem, interiorizando-o e projectando-o, se possível, física e psicologicamente. E são muitos os que se notabilizaram ao longo do século XX, ainda que nem todos tenham beneficiado das tecnologias que hoje permitem registos de som e de imagem.

Se considerarmos que em ópera se percorrem o filosófico, o literário e o histórico, o coreográfico estará, necessariamente, associado. A ópera será, então, o produto final de um conjunto de manifestações artísticas, com uma obra literária ou um tema, um libreto e libretista (s), um compositor, e não apenas. Virão depois os técnicos, os coros, os condutores e executores da música, do canto e da acção.

Na ópera também existem as correntes, os estilos ou as escolas, mais inovadoras ou nem tanto. A ópera italiana adquiriu natural visibilidade, tendo um período de menor definição enquanto “escola”, que a Giuseppe Verdi coube ocupar entre o Romantismo (Rossini, Bellini, Donizetti) e o Naturalismo (Puccini). Música e sonoridade vocal interligam-se e complementam-se, desafiam-se, rivalizam e são cúmplices, e lá estão as obras de Verdi, com belas árias para tenor e coros magistrais (estes, frequentemente como elementos de técnica narrativa da acção).

A amplitude vocal de Pavarotti fez dele um caso de popularidade na interpretação da ópera italiana. Dizemos “vocal” sem desprimor, mas não poderemos ignorar que estava fragilizado na vertente coreográfica, já que 1,90 m de altura e um peso que ia aos 120 quilos não ajudavam. Coisas que bem sabia gerir e contornar, afinal. São brilhantes e irresistíveis os seus dotes vocais no papel de Radamés, em Aída (Verdi), mas no palco não vemos a postura de um guerreiro que quer sair vencedor e conquistador… mas que acaba por favorecer o papel e a condição escrava da “celeste Aída”. De facto, a voz impressionante sobrepõe-se como elemento valorativo e de compensação.

Muitas vezes a ópera italiana é olhada como escola e como modelo, ainda que sem o rasgo inovador assumido pela ópera francesa e, sobretudo, pela ópera alemã. Ora Pavarotti não optou, visivelmente, por caminhos complexos ou em risco de colisão com a incompreensão ou o insucesso. Era selectivo.

Com Plácido Domingo e José Carreras, Luciano Pavarotti integrou o grupo de “Os Três Tenores”, com actuações e discos a favor de causas sociais. Para trás ficavam a leucemia de Carreras e uma oculta rivalidade ente Pavarotti e Plácido Domingo.

No mundo da arte, ou do canto, a dimensão do absoluto não existe. Mas vale sempre a pena ver e ouvir Luciano Pavarotti, um dos grandes tenores do século XX.


Manuel Paula Maça
      2007-09-28
manoel.maza@gmail.com





domingo, 12 de agosto de 2012

AR CONDICIONADO COM MICROFONES?


AR CONDICIONADO FNAC: ONDE FICARAM OS MICROFONES?

Passaram bem mais de 20 anos (o tempo exacto não é relevante) quando a minha instituição decidiu pela aquisição de equipamentos da marca FNAC. Sim, desses que Zita Seabra vem dizer, agora, que tinham microfones incorporados.

Tive responsabilidades no processo, cabendo a vertente técnica ao saudoso Eng.º Luís Gonçalves, que valorizava as bombas de calor split que equipavam os aparelhos

A Unidade de Cuidados Intensivos do Hospital de Leiria ficou bem equipada, em preço e qualidade, e se mais vidas não puderam salvar-se não foi por causa do ar condicionado, com ou sem microfones incorporados.

Foi pena Zita Seabra não ter falado em tempo útil e oportuno. Como disse Gabriel Garcia Marquez “há verdades que, quando as descobrimos, já não valem de nada”.

Porém, há “verdades” que têm apenas o valor e o significado que quisermos dar-lhe. 

Manuel Paula Maça

2012.08.12

Foto da década de 1960, presumivelmente . Após obras de vulto (início década de 1980), a parte exterior dos aparelhos foi instalada do lado direito da parede, a nível do rés-do-chão. Ali se mantiveram até à abertura do novo Hospital, em meados de 1995. È possível alvitrar a data desta e de outras fotos em função de construções anexas e de obras documentadas, de que é exemplo o frontão triangular, da década de 1950...

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