domingo, 29 de junho de 2014

ALDEIA DO MATO ABRANTES - REGISTOS PAROQUIAIS 1860-1911 - 9


 
A criança era colocada no exterior. O toque de uma sineta
dava o sinal no interior, onde se fazia rodar o sistema e recolhia a criança
(foto internet, município de Almeida, distrito da Guarda)

ALDEIA DO MATO 1860 A 1911
(UM ESTUDO DOS REGISTOS PAROQUIAIS)
(Continuação)
9

  OS EXPOSTOS
O nascimento de crianças indesejadas levava (e leva, ainda hoje), a atitudes extremas, violentas e chocantes, traduzidas no abandono. Ainda que hoje existam a figura da adoção e outros meios e recursos outrora indisponíveis, estas ocorrências são de uma frequência atroz. Tudo se passa(va) como se o problema fosse apenas da mulher, pois o homem facilmente se punha a salvo das suas responsabilidades. Também percebemos já aqui algumas das razões pelas quais muita gente não sabia a idade exata, nem a terra de nascimento nem o nome dos progenitores. 
De uma forma ou de outra, a mulher pretendia evitar ou esconder o fruto dos seus amores proibidos, e muitas vezes as crianças indesejadas eram mortas, abandonadas, ou, na melhor das hipóteses, adotadas por outras mulheres ou até pelas próprias mães, transformadas em amas!... Nos casos em que eram mortas praticava-se o chamado infanticídio. Nos casos de abandono, eram colocadas à porta de outras pessoas, à porta de Conventos, Igrejas, Hospitais, ou até à borda de estradas e caminhos! Eram os Expostos ou Enjeitados.
Convirá dizer que ao longo dos tempos governantes e Instituições Religiosas assumiram atitudes de alcance prático no sentido de favorecer a Exposição, para combater o infanticídio. Nas Ordenações Manuelinas há diversas disposições a este respeito.
Parece ter sido criado em Lisboa, no século XIII, o primeiro hospício para crianças abandonadas. Em Santarém, ainda em finais do século XIII, Dª Beatriz de Gusmão terá fundado um hospício para o mesmo fim, a que chamou Hospital de Meninos. Esta obra foi continuada pela Rainha Santa Isabel, e passou a chamar-se Hospital de Santa Maria dos Inocentes. Em 1325 surgiu, em Coimbra, a Real Casa dos Expostos. Em 1490, depois de autorização por bula de 13 de Agosto de 1479 do Papa Xisto IV, D. João II fundou o Real Hospital de Todos-os-Santos de Lisboa, que ficou dotado de um criandário com 200 crianças sustentadas por amas que inicialmente eram pagas pelo próprio Hospital e, mais tarde, pela Câmara da cidade.
A fundação da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (autorizada por Bula do Papa Alexandre VI), ocorrida a 15 de Agosto de 1498, por iniciativa da Rainha Dª Leonor e inspiração do Frade Trinitário (espanhol) Frei Miguel Contreiras é um marco fundamental na organização da assistência em Portugal. Quando Dª Leonor morreu já existiam em Portugal mais de 60 Misericórdias, o que, na matéria em apreço, poderá significar mais apoio às crianças expostas ou enjeitadas.
Em 1585 foi criada figura e o cargo do "pai das crianças", homem "encarregado de recolher todas as crianças abandonadas, quer se encontrassem na berma da estrada, nas portas de casas particulares, das igrejas, ou em qualquer outro sítio, e de as entregar nos locais a elas destinados" (1).
Foi assim que se criaram as chamadas rodas, que eram colocadas em determinadas casas ou em conventos, permitindo que a criança depositada no exterior fosse recolhida no interior. O reconhecimento oficial das rodas foi feito por Dª Maria I e por Pina Manique, e entre 1783 e 1872 viriam a ser "o lugar oficial de recepção dos expostos" (1). A existência das rodas ficou associada a lugares e artérias das localidades que aí colheram o seu nome. Em Constância, por exemplo, existe a Rua da Roda, ao lado da Igreja Matriz.
A utilização das rodas parece ter reduzido o número de casos de infanticídio, mas a verdade é que que os expostos ou enjeitados foram grande preocupação do poder político e das instituições de inspiração caritativa e religiosa. É que, não raro, as crianças eram filhas ilegítimas de gente insuspeita!
As despesas com as amas ou criandários eram frequentemente assumidas pelos municípios. A título de exemplo próximo da nossa terra (e já que se falou de Santarém), podemos dizer que ao longo de todo o século XIX o Município de Tomar e Governo Civil de Santarém foram tomando medidas diversas, às vezes contraditórias entre si, no que respeitava aos "expostos, desvalidos e abandonados", havendo registos de 1839, 1873, 1874, 1875 e 1901 (2). Consultando Monografias, Anais, Livros de História da Medicina e até a História de Portugal, de José Mattoso (V volume), podemos constatar que os municípios pagavam diferentemente às amas, consoante eram de leite ou secas. Em 1865, por exemplo, a Câmara Municipal de Abrantes foi autorizada a "elevar os salários das amas dos expostos a mil e quatrocentos réis, às de leite, e a mil réis às de seco, tendo princípio em o 1º de Julho" (3). Encontramos até curiosos incentivos financeiros à criação de gado para produção de leite para as crianças expostas.
Mas estas crianças tinham a vida comprometida desde a conceção, pois algumas mulheres aceitavam-nas mais para obter um rendimento suplementar do que para cuidar delas, e a maior parte morria com tenra idade. Em geral havia dificuldade em contratar amas, até porque os subsídios não eram atraentes, sendo, ainda, pagos tarde e a más horas. Isto levou a que o Governo de Passos Manuel reconhecesse, em 1836, "o estado lamentável a que por toda a parte se acham reduzidos os expostos" (Portaria de 12 de Janeiro de 1836). As medidas administrativas tomadas viriam a ser revistas em 1842, impondo às juntas gerais dos distritos e às câmaras municipais que assumissem a contratação de amas para os seus expostos, assim como as respetivas despesas. Mas sabe-se que, ante a escassez de recursos, muitos municípios remetiam as suas crianças para as rodas dos municípios vizinhos, numa espécie de dramático esquema de passagem da bola...
Devido ao papel das instituições religiosas neste processo, à maior parte das crianças expostas eram dados nomes de santos, apóstolos ou outras figuras ligadas à Igreja: Ludgero, Tomé, Sebastião, Agostinho, Marta, Eva, Maria, Purificação, etc. E se muitos destes nomes ficaram na nossa freguesia, é porque na verdade muitos expostos para ali vieram, e em especial para a Cabeça Gorda.

9.1. Os Expostos nos Registos de Óbitos
Encontramos neste período e na freguesia de Aldeia do Mato 44 registos de óbitos relativos a expostos. Aqui ficam os seus nomes, alfabeticamente ordenados:
Afonso Vicente; Agostinho; Aleixo; Anastácia; Anastácio; Aniceto; António; Bernardo; Carolina; Constância; Eduardo dos Santos; Estêvão; Eugénia; Eva; Faustino; Francisco; Gregório; Helena; Henrique; João; José; Lisbão (4); Manuel; Marculiana; Maria; Mariana; Marta; Narcisa; Nicolau; Paulino dos Santos; Paulo; Silvestre; Tiago; Tomé; Zacarias.
Relativamente aos expostos que figuram no registo de óbitos podemos acrescentar:

9.1.1. A maior parte dos nomes aparece só uma vez, indo excecionalmente até quatro (Maria). Em geral têm conotação com figuras da Igreja Católica.

9.1.2. Os locais de óbito e os números foram:

Aldeia do Mato:...................3
Cabeça Gorda:...................21        
Casais:.................................2
Carreira do Mato:...............15
Medroa:...............................3

9.1.3. As idades com que morreram e os números foram:

Até 1 ano............................18  (40,9%)
De 1 aos 11 anos..................8
Dos 20 aos 30 anos..............5
Dos 31 aos 40 anos..............5
Dos 41 aos 50 anos..............2
Dos 60 aos 70 anos..............2
Com 78 anos.........................1
Com 83 anos.........................2
Com idade desconhecida....1

As conclusões que daqui poderemos extrair devem ser cautelosas. Estes números são apenas os que morreram entre 1860 e 1911, inclusive, embora se perceba claramente que os historiadores têm razão ao afirmar que uma grande parte morria com tenra idade, fosse onde fosse, incluindo pela Europa adiante. No nosso caso, 40,9% morreram até à idade de 1 ano.

9.2. Outras Referências a Expostos
Se atentarmos nos registos de batizados e de casamentos encontramos mais referências a expostos, embora sem podermos seguir-lhes a trajetória. São sobreviventes: pais, avós, homens e mulheres, vindos não se sabe quando nem de onde, mas que deixaram marcas: os descendentes e os nomes. Como forma de complementar esta abordagem, ficam alguns desses nomes, uma vez mais identificáveis com a Igreja Católica:
Adélia; Angelina; Bartolomeu; Bernardino; Braz; Domingos; Estanislau; Firmino; Genoveva; Joana; Ludovina; Mónica de Jesus; Paula Maria; Pedro; Roberto; Sebastião dos Santos.

Esta abordagem fica por aqui, esperando que fique minimamente cumprida a intenção de trazer à luz do dia este fenómeno chocante e recôndito da história da Aldeia do Mato.

Registe-se que a palavra “abandono”, nesta matéria não é consensual. De fato, colocar uma criança num ermo ou num matagal, ao frio ou ao calor, era condená-la a uma morte breve. Diferentemente, colocar a criança na roda, à porta de uma casa ou de uma igreja refletia o desejo de que alguém a acolhesse e a cuidasse.

(1) Dr.ª Beatriz Pena, in Saúde Infantil Nº 53, Pedopsiquiatria, Hospital Pediátrico de Coimbra, 1994. 
(2) vd. Anais do Município de Tomar, Alberto de Sousa Amorim Rosa, Câmara Municipal de Tomar.
(3) vd. Memória Histórica da Notável Vila de Abrantes, Manuel António Morato e João Valentim da Fonseca Mota, Câmara Municipal de Abrantes, 1981 e 1990.
(4) O registo indica claramente Lisbão. Convém dizer que muitas vezes as crianças vindas de outras terras também podiam ter nomes que com elas se identificavam, mais ou menos claramente. Esta palavra sugere Lisboa.
                                                                                                                                            (continua)
Manuel Paula Maça
manoel.maza@gmail.com


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quarta-feira, 18 de junho de 2014

ALDEIA DO MATO ABRANTES - REGISTOS PAROQUIAIS 1860-1911 - 8

Maria Paula foi batizada em 8 de Junho de 1891
ALDEIA DO MATO 1860 A 1911
 (UM ESTUDO DOS REGISTOS PAROQUIAIS)
(Continuação)
 8
O CONTACTO COM OUTRAS TERRAS
Aspeto interessante no estudo de uma comunidade são os movimentos migratórios, suas motivações e consequências. O homem pode deslocar-se de um lado para o outro, por mais ou menos tempo e por razões muito variadas: económicas, familiares, espírito de aventura, posição social, etc., sem esquecer os rapazes que outrora fugiam ao serviço militar (1). Isto provoca inevitável intercâmbio, com vastas implicações económicas, sociais e culturais: nomes, profissões, atividades, costumes, modos de trabalhar e de produzir. No fundo, as pessoas transportam consigo um vasto património cultural, a que algo pode ser retirado ou adicionado, produzindo-se fenómenos a que a sociologia designa com termos como aculturação e enculturação).
Estima-se que em finais do século XIX tenham saído de Portugal cerca de 500.000 pessoas, sobretudo homens. Os destinos da moda eram a África e o Brasil, mas nada nos permite supor que os nossos antepassados da Aldeia do Mato tenham cruzado os mares nessas direções. Contudo, sabemos que muita da nossa gente andava de terra em terra à procura de sustento, à volta de Abrantes, Mação, Sardoal, Tomar, Vila de Rei, em Lisboa, Ribatejo e Alentejo fora. A própria literatura (lembramo-nos dos Gaibéus, dos Ratinhos, dos Caramelos, dos Avieiros). Também as bonitas cantigas populares de que tanto gostamos nos deixam preciosas indicações. Não resistimos a recordar a Cantiga do Resineiro, que alguns dizem ser oriunda do Mação, nem uma bela recolha do Rancho Os Esparteiros, de Mouriscas: "Ai, eu parto para Santa Eulália/ Ai, vou para a ceifa do trigo...".
As pessoas das diferentes terras iam-se conhecendo no trabalho, em festas e em romarias. Surgiam casamentos, nascimentos e batizados, com compadres e comadres que às vezes vinham de bastante longe deixar os seus nomes aos afilhados, se acaso não fizessem já parte da nossa comunidade, por qualquer outra razão. Com efeito, o Padre Alpalhão deixou nos Assentos de Batizados algumas indicações da proveniência de pessoas que entravam ou que vinham à Aldeia do Mato. Importa sublinhar que, nos casos em apreço, as pessoas vinham por razões familiares: para contrair casamento e constituir família, ou simplesmente para apadrinhar crianças no batizado. Aqui ficam algumas notas, para avivar a memória dos nossos conterrâneos:
8.1. Abrançalha:
Daqui veio Manuel Vicente para a Aldeia do Mato. Casou com Ana da Conceição, em 2.11.1885.
8.2. Abrantes:
As famílias Heitor Marques e Mota Ferraz apadrinharam diversos batizados a partir de 1889.

De Abrantes veio, também, Roberto Rodrigues para a Carreira do Mato, casando com Maria da Conceição, em 23.01.1899.
8.3. Aljustrel, Beja:
Inácio Luís veio desta terra alentejana para a Aldeia do Mato. Não consta do registo de casamentos, mas aparece casado com Joaquina Maria (pais de uma criança em 1900).
8.4. Alverangel, Tomar:
Daqui veio Rosa Maria, como madrinha de uma criança do Bairro, em 1905.
8.5. Amoreira:
Daqui vieram Sebastião Rodrigues, padrinho em 1878, na Carreira do Mato, e Manuel João, padrinho em 1887, na Aldeia do Mato.
Manuel Esteves casou na Aldeia do Mato, com Maria da Conceição, em 2.12.1896.
Em 1911, Zeferino Lopes dos Santos (estudante) apadrinhou uma criança da Cabeça Gorda.
8.6. Andreus:
Daqui veio João Mendes, para a Medroa. Casou com Maria do Carmo, em 26.12.1877.
8.7. Arega (Figueiró dos Vinhos):
Daqui veio João Rodrigues de Almeida, padrinho de uma criança da Cabeça Gorda, em 1887.
8.8. Caniceira (Tramagal):
Daqui veio Guilherme Henriques, para a Aldeia do Mato, onde casou com Maria do Rosário, em 26.03.1888.
8.9. Coimbra:
De terras do Mondego vieram até à Aldeia do Mato Teles Colaço (padrinho em 1862), e Raimundo da Silva Mota (Lente em Coimbra, médico), com sua filha Adelaide Botelho Mota (padrinhos em 1878).
8.10. Constância:
Desta bonita vila vieram os irmãos Paulo Oliveira Tanqueiro e Francisco Oliveira Tanqueiro. Casaram com as irmãs Conceição e Guilhermina, filhas do nosso conhecido Pedro Inácio de Matos e de Maria da Conceição. Fixaram-se na Aldeia do Mato.
Francisco casou em 23.04.1904, mas do casamento de Paulo não há registo (poderá ter ocorrido noutra terra, fora da paróquia).
8.11. Figueiró dos Vinhos:
Joaquim da Silva veio apadrinhar uma criança da Cabeça Gorda, em 1874.
8.12. Fundada, Vila de Rei:
Bernardino Luís veio para o Bairro, tendo casado com Maria do Carmo,. em 28.04.1890
8.13. Idanha-a-Nova:
O casal António Rodrigues Oliveira e Josefina da Conceição veio apadrinhar uma criança da Aldeia do Mato, em 1910.
8.14. Lisboa:
Augusto Gregório veio apadrinhar uma criança da Carreira do Mato, em 1900.
O casal Antão Galriça e Victória de Jesus veio até à Cabeça Gorda em 1898 e 1901, pelas mesmas razões. Curiosamente, as estas duas crianças eram irmãs (um menino e uma menina), e filhas de João Patrício e Henriqueta Maria.
8.15. Mação:
Gertrudes Maria veio para a Carreira do Mato, tendo casado com Januário António, em 11.12.1899.
8.16. Martinchel:
Embora uma freguesia limítrofe, daqui não veio muita gente para a Aldeia do Mato. Os casos registados referem pessoas que se fixam sobretudo em Vale de Chões e Medroa Segundo os registos disponíveis, Martinchel teria muito menos gente que a Aldeia do Mato (2).
8.17. Montalegre:
João Baptista veio para a Carreira do Mato. Casou com Henriqueta de Jesus, em 8.09.1879.
8.18. Montalvo:
Em 1904, o casal Joaquim António e Leopoldina Maria apadrinhou uma criança da Medroa.
8.19. Mosteiro, Oleiros, Castelo Branco:
João Inácio veio apadrinhar crianças em 1866 e 1883, respectivamente da Aldeia do Mato e da Medroa.
8.20. Mouriscas:
O Padre Henrique Oliveira Neves, pároco da freguesia desde 1888 até 1897, foi padrinho de muitas crianças, mesmo quando já exercia o seu múnus apostólico nas Mouriscas.
8.21. Paul:
Francisco Aderneira foi padrinho de uma criança da Medroa, em 1880.
Virgínia Maria também apadrinhou crianças da Carreira do Mato e da Medroa, dando o seu nome a algumas.
Maria Teresa veio fixar-se na Medroa, com Manuel Lucas dos Santos, em 1907. Não há registo do casamento, mas este poderia ter ocorrido noutro lugar.
8.22. Rio de Moinhos:
Álvaro de Matos Machado apadrinhou uma criança da Aldeia do Mato, em 1873.
José dos Santos Bioucas, foi padrinho de uma criança da Medroa, em 1900.
Henrique Bento deixou afilhado na Carreira do Mato, em 1905.
António Candeias (sapateiro), veio para os Casais, onde casou com Maria Rosa, em 18.02.1905.
8.23. Rossio de Abrantes:
Manuel Francisco Pires foi padrinho de uma criança da Medroa, em 1909.
8.24. S. Pedro do Sul, Viseu:
Joaquim Fonseca da Silva não consta nos registos de casamentos da paróquia. É pai de uma criança em 1905, constando ser casado com Rosália Maria, da Cabeça Gorda.
8.25. Sabacheira, Tomar:
Segundo este curioso registo, José António Duarte era pastor. Em 1910 é pai de uma criança ilegítima cuja mãe se chama Maria Rosa: é viúva, e da Aldeia do Mato.  
Nos registos de óbitos consta ter ficado viúva em 22.02.1909 uma Maria Rosa, da Aldeia do Mato, à data com 35 anos de idade e já com um filho. Coincidência? Dos registos disponíveis também ficou claro que Maria Rosa era filha de pais incógnitos.
Da nossa análise também parece que José António e Maria Rosa nunca casaram. Dele, nada mais podemos conjeturar.
8.26. Sardoal:
Júlio Martins de Oliveira, padrinho de uma criança da Carreira do Mato, em 1887.
8.27. Serra, Tomar:
Francisco Nunes apadrinhou uma criança da Medroa, em 1887.
João Serôdio veio constituir família na Cabeça Gorda, casando com Maria Cristina em 21.11.1887.
8.28. Soure, Coimbra:
Maria Simões veio para a Carreira do Mato. Não consta nos registos de casamento, mas seria casada com José Manuel Candeias. Há filhos deste casal a partir de 1897.
8.29. Souto:
É grande a quantidade de homens e de mulheres que vieram dos vários lugares da freguesia do Souto para a de Aldeia do Mato. Este movimento foi uma constante, e verifica-se que vinham sobretudo mulheres. Isto poderá parecer uma exceção à regra, já que o casal se fixaria, tendencialmente, na terra da noiva, perto da casa de seus pais, mas na verdade não temos os registos de quem saiu. Os lugares para onde vieram foram sobretudo a Carreira do Mato e a Cabeça Gorda. Importa dizer que os registos disponíveis indicam ser o Souto a mais populosa das freguesias limítrofes da Aldeia do Mato (3).
8.30. Vale de Paços, Vila Real:
O transmontano José Narciso de Morais, apadrinhou uma criança da Medroa, em 1873.
8.31. Vila de Rei:
Ana Rosa veio para a Aldeia do Mato, onde casou em 19.11.1900. Seu marido foi João Gonçalves Braz (taberneiro).
Neste apontamento poderemos constatar que, de facto, havia contactos entre pessoas de diferentes terras, embora seja recomendável muita cautela na análise dos dados. No caso dos padrinhos e das madrinhas, por exemplo, seria arriscado afirmar que as pessoas vinham de propósito de tão longe, pois poderiam ter vindo anteriormente das suas terras, fixando-se ou estando de passagem, já que algumas atividades eram sazonais e, até, itinerantes (latoeiros, amoladores, resineiros, comerciantes, relojoeiros, ourives, etc.).
De quem saía não temos notícia, e o que infundadamente se acrescentar ao que dissemos será conjetura.
(1) Por razões familiares, ainda nos lembramos de Bernardino dos Santos, nascido na Cabeça Gorda em 16.04.1896, filho de Sebastião dos Santos e de Paula Maria (Expostos). Consta que fugiu para Évora e daí para Peniche. De fato aqui se fixou, constituiu família e faleceu.
(2) O Dicionário Chorográphico de Portugal e Ilhas Adjacentes, E. A. Bettencourt, 3ª Edição, Lisboa, 1885, atribui a Martinchel 74 Fogos, e 199 Varões e 177 Fêmeas.
(3) Segundo as Memórias Paroquiais, em 1758 a freguesia de São Silvestre do Souto teria "312 fogos, 868 pessoas maiores, 156 menores e 300 inocentes".
                                   
(continua)
 
Manuel Paula Maça
 

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terça-feira, 10 de junho de 2014

ALDEIA DO MATO ABRANTES - REGISTOS PAROQUIAIS 1860-1911 - 7

Antiga Igreja Carreira do Mato. Foto de um amigo, retirada da net.
 
ALDEIA DO MATO 1860 A 1911
 (UM ESTUDO DOS REGISTOS PAROQUIAIS)
(Continuação)
7
 
PROFISSÕES, OCUPAÇÕES OU LUTA PELA SUBSISTÊNCIA
Os registos disponíveis referem algumas profissões ou atividades (sobretudo masculinas), que nos permitirão, ainda que vagamente, abordar aspetos da vida económica dos nossos antepassados. Vamos, pois, tentar enquadrá-las e procurar apreender o como e o de que viviam nesses tempos recuados.
Os historiadores costumam alertar para as consequências e condicionalismos impostos pelas Invasões Francesas. Sabemos que enquanto durou a chamada Guerra Peninsular as regiões de Abrantes e de Tomar foram duramente castigadas e penalizadas. Se do lado de Tomar estiveram, normalmente, os Franceses, do lado de Abrantes estiveram os Franceses (até 17 de Agosto de 1808) e, pouco depois os Ingleses. As escaramuças e a rapina de um lado e do outro do Rio Zêzere eram frequentes e estão documentadas em abundante bibliografia. Isto desarticulou as rudimentares produções pecuárias e agrícolas da época e da região, e foi agravado pela circunstância de os homens serem forçados à prestação de serviço militar por períodos que podiam chegar aos oito anos. Segundo os elementos colhidos, em finais do século XIX, 7 em cada 10 portugueses viviam do campo e para o campo. O país era essencialmente rural e agrícola.
De facto, nos registos predominam profissões e ocupações ligadas à terra, e muitas vezes a mesma pessoa desenvolvia atividades variadas ao longo do dia e do ano. Exemplificando: era possível ser-se jornaleiro durante a Primavera e cesteiro durante o Inverno; ou, então, ferrador de manhã e sapateiro à tarde, sendo-se ainda pastor ou barbeiro, repartindo o tempo. O termo trabalhador aparece frequentemente e teria um conceito bastante abrangente, parecendo-nos que muitos procurariam sobretudo subsistir ou sobreviver, dedicando-se a uma multiplicidade de tarefas ou ocupações que geralmente não nos aparecem individualizadas, mas que seriam de inegável importância no tecido económico e social da época.
Não poderemos quantificar as ocupações, devido á escassez de dados, e porque os nomes não são indicados com exatidão nos diversos registos e se confundem.
Embora não respeitando sempre a residentes nos lugares da aldeia (muitos foram apenas padrinhos), teremos as seguintes atividades:
7.1. Atividades Masculinas:
- 2º Sargento da Guarda-fiscal: trata-se de Guilherme Henriques. Foi padrinho pelo menos 6 vezes, em vários lugares da freguesia, pelo que seria pessoa com importância.
- Alfaiate: encontramos diversos. Não havia pronto-a-vestir, por isso comprava-se o tecido e a roupa era confecionada por medida.
- Barbeiro: José Lopes Ferreira foi padrinho de uma criança da Cabeça Gorda em 8.03.1899. Parece-nos que esta atividade não seria desenvolvida a tempo completo. Num meio rural, e há cem anos, os homens mandariam fazer a barba uma ou duas vezes por semana, possivelmente depois da jornada de trabalho ou ao fim da semana.
- Boticário: encontramos um: Álvaro Ignácio de Mattos. Foi padrinho de uma criança da Aldeia do Mato, batizada em 3.10.1878. Era irmão de Pedro Ignácio de Mattos.
- Carpinteiro: encontramos diversos.
- Cingeleiro: aparecem-nos alguns registos desta profissão hoje desaparecida. Uma cingela era uma junta de bois, e o cingeleiro seria o que a possuía ou com ela trabalhava.
- Cocheiro: aparece um caso. Trata-se de João Francisco Pimpão, padrinho de uma criança da Medroa em 7.02.1906. Sem qualquer compromisso de rigor histórico, lembraremos a circunstância de ali haver um lugar chamado estalagem. Esta designação, combinada com o traçado das antigas vias de comunicação, deixa-nos admitir que ali tenham existido pessoas ligadas a este tipo de estabelecimentos e aos transportes de tração animal.
- Comerciante: encontramos muitos. Seria uma atividade desdobrada em várias que não encontramos individualizadas: vendedor de mercearias, de artigos domésticos, de utensílios de barro, de ferragens, de tecidos, etc. Convém lembrar que, grosso modo, e de uma forma rudimentar, as antigas lojas das aldeias teriam sido as antepassadas dos modernos supermercados. Nelas vendia-se quase tudo! 
- Criado de Servir: há registo do batizado de um menino da Aldeia do Mato, em 21.11.1908, em que o padrinho José Pedro seria Criado de Servir. O menino chamou-se José, e era filho de Francisco Oliveira Tanqueiro (de Constância) e de Guilhermina Conceição de Matos (esta, filha do já referido Pedro Ignácio de Mattos e de Maria da Conceição).
- Empregado da Câmara de Lisboa: este curioso registo refere-se a Inácio Luís, do concelho de Aljustrel, distrito de Beja. Casado com Joaquina Maria, foi pai de uma criança nascida em 1.11.1900, na Aldeia do Mato.
- Estudante: aparece um registo, que se refere a Zeferino Lopes dos Santos, da Amoreira. Padrinho de uma menina da Cabeça Gorda, batizada em 29.05.1901.
- Feitor: aparece apenas um. Chamou-se Pedro de Matos. Foi padrinho em 23.09.1906, onde a Criada de Servir Maria Clementina foi madrinha.
- Ferrador: encontramos diversos, e isto poderá atestar da utilização dos animais como auxiliares do homem, no trabalho e nos transportes.
- Ferreiro: também encontramos vários, pois os utensílios domésticos e de trabalho eram feitos manualmente. Lembramos, por exemplo, que Francisco Pedro (o Maneiras), da Carreira do Mato, teria executado o portão do cemitério da Aldeia do Mato, em 1913.
- Fiscal: há um registo. Refere-se a José António Ribeiro, padrinho de um menino da Carreira do Mato, em 3.05.1896.
- Lente em Coimbra: há um registo, que se refere a Raimundo da Silva Mota. médico abrantino, professor em Coimbra. Deu o nome ao afilhado da Aldeia do Mato, batizado em 8.09.1878.
- Marítimo: Há um registo referente a Henrique Bento, de Rio de Moinhos, que foi padrinho de uma menina da Cabeça Gorda em 18.06.1905. Lembramos que os homens que trabalhavam no rio Tejo eram normalmente conhecidos por marítimos. A bonita vila de Constância ainda hoje apresenta sinais desses tempos.
- Moleiro: são muitos os registos desta profissão. A produção e a moagem de cereais (sobretudo o milho) eram vitais para os nossos antepassados. Os cursos de água eram aproveitados para mover engenhos de moagem, de que ainda hoje encontramos restos.
- Negociante: são muitos os registos. Tal como para os comerciantes, a atividade seria muito abrangente. Atrevemo-nos a imaginar, por exemplo, negociantes de madeira, já que esta era uma das grandes riquezas da região.
- Padeiro: encontramos apenas um. Chamava-se António Pires dos Santos e poderia viver na Aldeia do Mato, onde foi padrinho de uma menina em 4.02.1903. Não há que estranhar tanto moleiro e só um padeiro. O pão era cozido em casa!
- Padre: o Padre Henrique Oliveira Neves foi padrinho de várias crianças. Nos registos é referido como Padre, Pároco ou Vigário. Sabemos que exerceu o seu ministério também nas Mouriscas. Os seus afilhados do sexo masculino tiveram o nome do padrinho, e porventura muitos Henrique da nossa terra colherão aqui a origem do seu nome.
Também o Padre Manuel Lopes Alpalhão aparece algumas vezes como padrinho.
- Pastor: encontramos muitos registos de pastores. Não admira, porque estamos num meio puramente rural, e numa época em que a pastorícia seria importante atividade económica. Muitas terras que hoje têm pinheiros e eucaliptos tiveram outrora verdejantes campos de erva e de oliveiras. Quase todos podemos ouvir, ainda hoje, histórias de antigos pastores ou guardadores de rebanhos...
- Pedreiro: são muitos os registos encontrados. São indícios de muita da mão-de-obra que há-de ir um dia para a construção civil e para as obras públicas, no domínio do chamado Estado Novo...
- Professor Oficial: há um registo. Refere-se a António Branco, exercendo não se sabe onde. Deu o nome ao afilhado batizado em 22.03.1883, na Aldeia do Mato.
- Proprietário: são muitos os registos. O tamanho da propriedade dominante não seria grande, mas possuir terra, olival ou pinhal eram sinónimos de bem viver e até de estatuto social importante.
- Sapateiro: encontramos muitos. Como a roupa, o calçado era feito por medida.
- Serrador: eram muitos, o que se explicará pelo predomínio dos pinheiros.
- Taberneiro: encontramos três:
   . João Gonçalves Braz, na Aldeia do Mato;
   . João Silva Fernandes, na Carreira do Mato;
   . Martinho Francisco Ferromau, na Medroa.
 Há historiadores que situam em 1870 o aparecimento e o desenvolvimento das tabernas, nos meios rurais.
- Trabalhador: é termo frequente. Talvez que a palavra possa abranger a maior parte da mão-de-obra dos nossos antepassados que trabalhavam no campo ou no pinhal, por conta de outrem.
7.2. Atividades femininas.
Muitas vezes se tem esquecido e secundarizado o importante papel da mulher na sociedade. Com efeito, para além das tarefas domésticas que por tradição lhe eram acometidas, as mulheres foram importante força de trabalho e contributo decisivo para as economias das famílias e das sociedades. Nas nossas aldeias, trabalhavam a terra, transportavam à cabeça madeira cortada nos pinhais e desenvolviam uma série de atividades consideradas femininas: eram tecedeiras, costureiras, bordadeiras, e até jornaleiras. São escassos os registos relativos a tais atividades, mas ainda encontramos os seguintes:
- Criada de Servir: são dois os registos encontrados. Referem-se a Ana Rosa de Oliveira e a Maria Clementina. Aparentemente, viveriam na Aldeia do Mato.
- Costureira: encontramos três registos com esta indicação.
- "Sem ocupação": são dois os registos que contêm esta curiosa anotação. Um deles refere-se a uma mãe solteira.
Para além de um rol de recordações, este capítulo será a fixação de aspetos da vida dos nossos antepassados entre 1860 e 1911 (inclusive), no mínimo curiosos.
Convirá reter que nos primeiros anos dos registos estas referências são raras, tornando-se mais frequentes à medida que se avança nos anos. E uma vez mais é inegável o carácter rural da aldeia, já que as profissões mais diferenciadas respeitam, em geral, a pessoas que vinham de fora, para apadrinhar crianças.
Associando estes factos às taxas de mortalidade oportunamente indicadas, à existência de pedintes e de expostos, talvez possamos inferir que muitas vezes se travava uma luta dura pela subsistência!
(continua)
Manuel Paula Maça

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quarta-feira, 4 de junho de 2014

ALDEIA DO MATO ABRANTES - REGISTOS PAROQUIAIS 1860-1911 - 6

ALDEIA DO MATO 1860 A 1911
(UM ESTUDO DOS REGISTOS PAROQUIAIS)
 
Gráfio resumo com distribuição ao
longo dos meses no período em análise



ANTROPONÍMIA
(Continuação)

Depois das considerações sobre nascimentos, casamentos e óbitos registados nos livros de assentos, temos como importantes algumas considerações em torno dos nomes dos nossos antepassados.

6.1. Nomes Próprios
A lei atual permite a adoção de um máximo de dois vocábulos para designar o nome próprio de cada pessoa. Depois vêm os apelidos, normalmente retirados dos progenitores. Até 1958 a lei era mais permissiva, e é por isso que o atual pretendente ao trono português, D. Duarte Nuno, tem no seu nome próprio tanto como onze vocábulos! Mas no caso dos nossos antepassados não encontramos mais de dois vocábulos, como sejam Maria da Conceição ou José António, por exemplo.
Mas para ficarmos a saber os nomes dominantes no período em estudo vamos a eles e às quantidades encontradas no Registo de Batizados.
Consideraremos, porém, apenas o primeiro vocábulo do nome próprio:
 
6.1.1. Nomes Masculinos
Nome
Quantidade
Nome
Quantidade
José
142
Alexandre
1
António
134
Aníbal
1
João
111
Bartolomeu
1
Manuel
67
Bento
1
Francisco
39
Bernardino
1
Joaquim
19
Carlos
1
Pedro
16
Custódio
1
Martinho
14
Diamantino
1
Augusto
9
Emídio
1
David
5
Ernesto
1
Domingos
5
Faustino
1
Luís
5
Feliciano
1
Jacinto
5
Firmino
1
Álvaro
4
Gilberto
1
Artur
4
Gonçalo
1
Guilherme
4
Inocêncio
1
Sebastião
4
Isidro
1
Henrique
3
Jerónimo
1
Agostinho
2
Júlio
1
Américo
2
Leonel
1
Januário
2
Ludgero
1
Josué
2
Maximiano
1
Raimundo
2
Narciso
1
Vital
2
Vicente
1
Adelino
1
-
-


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Deste quadro, e para os 627 indivíduos do sexo masculino registados, verificamos que:
a) 49 diferentes nomes foram utilizados;
b) 25 destes nomes foram utilizados uma só vez.

6.1.2. Nomes Femininos

Nome
Quantidade
Nome
Quantidade
Maria
258
Luísa
2
Ana
32
Natividade
2
Guilhermina
26
Nazaré
2
Alexandrina
26
Rosalina
2
Henriqueta
25
Albertina
1
Emília
24
Alice
1
Rosa
16
Angélica
1
Virgínia
16
Armanda
1
Rosária
14
Aurora
1
Joaquina
13
Benvinda
1
Leopoldina
12
Celeste
1
Rosália
12
Cidalina
1
Clarice
12
Clara
1
Beatriz
9
Conceição
 
Claudiana
7
Custódia
1
Palmira
6
Damásia
1
Deolinda
6
Delfina
1
Paula
5
Diamantina
1
Adelaide
5
Elvira
1
Amélia
4
Engrácia
1
Isaltina
4
Etelvina
1
Justina
4
Eugénia
1
Rita
4
Filomena
1
Adelina
4
Francelina
1
Cristina
3
Ilda
1
Elisa
3
Joana
1
Hermínia
3
Mafalda
1
Júlia
3
Martinha
1
Tomásia
3
Narcisa
1
Angelina
3
Olinda
1
Antónia
2
Patrocínia
1
Felicidade
2
Perpétua
1
Felismina
2
Sabina
1
Jacinta
2
Sofia
1
Josefina
2
Vitória
1

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Neste quadro, e para os 587 indivíduos do sexo feminino registados, verificamos que:
a) 70 diferentes nomes foram utilizados.
b) 31 destes nomes foram utilizados uma só vez.

6.2. Algumas Constatações
Analisando com alguma atenção os nomes das 1214 crianças registadas, verificamos que:
a) Muitos nomes atuais não eram utilizados naquele tempo.
b) Os nomes predominantes não se perderam e continuaram a usar-se.
c) Muitos identificam-se com a Igreja Católica: Apóstolos, Santos e Santas.    
d) Em cerca de 73% dos casos, as crianças receberam o nome do Padrinho ou         
da Madrinha, embora mais no masculino do que no feminino (por norma, eram os padrinhos que escolhiam os  nomes das crianças).

Ao longo do século XX, os nomes próprios foram frequentemente inspirados na chamada Literatura de Cordel (tipo Capricho); nas estrelas do futebol e do cinema; nas figuras proeminentes da política; nas vedetas das telenovelas brasileiras; em fenómenos resultantes da emigração para o estrangeiro.

6.3. Os Apelidos
Os apelidos são os vocábulos que se juntam ao nome próprio. Normalmente são retirados do nome dos pais. Por sua vez, frequentemente estes provinham de alcunhas, podendo ser conotados com aspetos de que seguem exemplos:
a) Profissões ou atividades: Moleiro, Ferrador, Ferreiro, Barqueiro, Padeiro, Guarda, Sapateiro, Serrador, etc.
b) Origem ou domicílio: Portela, Pico, Outeiro, Vale, Adro, Abrantes, Lisboa, Ribeiro, etc.
c) Características físicas: Gordo, Magro, Barrigudo, Feio, Belo, Louro, Lourinho, Penteado, etc.
d) Qualidades e defeitos morais: Mau, Bom, Leal, Modesto, etc.
e) Mundo vegetal: Pinheiro, Pereira, Laranjeira, Carvalho, Rosa, Figueira, Matos, etc.
f) Mundo animal: Cordeiro, Lobo, Sardinha, Rato, Raposo, Pinto, Coelho, etc.
g) Elementos estrangeiros: Espanhol, Inglês, Galego, Francês, etc. A participação de Portugal na I Grande Guerra e as Invasões Francesas terão deixado aqui discreto contributo.

Da análise que fizemos ressaltou pouca diversidade de apelidos, pois na maior parte das vezes não passam de uma espécie de segundo nome próprio. São exemplos: Vicente, Rosa, António, Francisco, Joaquim, Maria, Henriqueta, etc. Ainda assim, surgem algumas exceções curiosas: Penteado, Ferromau, Moleiro, Matos, Perdigão, Pimpão, Veríssimo, Nogueira, Pereira, Pires, Lucas, etc.

6.4. A Feminização dos Nomes
Voltando aos nossos registos, constatamos que, para além dos nomes tradicionalmente femininos, surgem muitas adaptações do masculino para o feminino, não nos parecendo acontecer o contrário. Deixamos alguns destes exemplos de nomes próprios e de apelidos, que encontrámos: 

Masculino
Feminino
Caetano
Caetana
Carvalho
Carvalha
Machado
Machada
Martinho
Martinha
Narciso
Narcisa
Perdigão
Perdigôa
Ribeiro
Ribeira
Silvério
Silvéria
Simão
Simoa
Tomás
Tomásia

Ao concluir este capítulo cabe dizer que recorremos apenas ao registo de nascimentos, para evitar nomes que poderiam aparecer repetidos nos registos de casamentos e de óbitos... ou nem aparecer mais.
Optamos pela grafia atual, já que nos textos que serviram de base ao trabalho os mesmos nomes aparecem abundantemente escritos de forma diversa.
                                                                                                                                     (continua)
Manuel Paula Maça
manoel.maza@gmail.com

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