terça-feira, 29 de abril de 2014

ALDEIA DO MATO ABRANTES - REGISTOS PAROQUIAIS 1860-1911


 
 
 
 
 
ALDEIA DO MATO (ABRANTES) 1860 A 1911

 
(UM ESTUDO DOS REGISTOS PAROQUIAIS)

 

 

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INTRODUÇÃO E PONTO DE PARTIDA
 
Começa aqui a publicação, em capítulos, de um trabalho em torno dos registos paroquiais da freguesia de Aldeia do Mato, num período que vai de 1 de Janeiro de 1860 até 31 de Dezembro de 1911.
Foi publicada aí por 1987 e 1988, no extinto jornal “A Nossa Terra Natal”, e apenas lhe serão feitas atualizações essenciais mínimas, seja porque conhecemos melhor o assunto, porque temos mais informação ou porque a oportunidade de alguns comentários passou e hoje não faria sentido.
Embora o pároco tenha deixada a anotação "Começa hoje, 1 de Abril, o registo civil obrigatório", os registos estendem-se a 31 de Dezembro desse ano. Como saberemos, entravam em vigor o Código do Registo Civil, publicado em Diário do Governo n.º41, de 20 de Fevereiro de 1911, e a Lei de Separação do Estado e das Igrejas, publicada no Diário do Governo n.º 92, de 21 de Abril de 1911. Junto com a publicação do Código do Registo Civil foi, aliás, nomeado Oficial do Registo Civil de Abrantes o bacharel António Apolinário Ferreira da Silva Oleiro.
A região era pobre e pobre se manteve. O rio Zêzere e a barragem do Castelo do Bode engrandeceram as cidades onde chegava a energia elétrica produzida à custa de casas e de terrenos alagados e submersos, que arrancaram meios de subsistência e acentuaram o isolamento destas gentes que, afinal, tiveram que pagar preço elevado. A água e a energia que cedo chegara a Lisboa e a outras cidades tardaram em chegar. Lembraremos que a barragem foi inaugurada em 21 de Janeiro de 1951. Martinchel e Aldeia do Mato teriam energia em 13 de Novembro de 1964; Souto seria abastecido a partir de 23 de Maio de 1965 e Carreira do Mato a partir de 27 de Agosto de 1967.
Seja como for, a Aldeia do Mato tem a sua história. Aparece-nos referenciada pela primeira vez em 1527, no cadastro da Estremadura, com 15 moradores (entendemos 15 famílias e arriscamos 60 a 70 pessoas). Nas Memórias Paroquiais do Padre Luís Cardoso, de 1758, já constam 365 moradores, ficando igualmente claro que o seu Orago é Nossa Senhora da Magdalena. O Dicionário Chorográphico de Portugal e Ilhas Adjacentes, de E. A. Bettencourt, 3ª Edição, 1885, atribui-lhe 399 varões e 438 fêmeas, totalizando 837 pessoas.
A Ordem de Cristo dominou ali bem perto (Tomar, Almourol, etc.), e os Cónegos Regrantes de Santo Agostinho (os Crúzios) foram senhores de Martinchel (1). Mas a Aldeia do Mato pertencia à Ordem de Malta, estando administrativamente integrada no Almoxarifado da Amieira, do Grão Priorado do Crato, sediado no Convento da Flor da Rosa (2). Só mais tarde viria a diocese de Portalegre, a que atualmente pertence, em termos eclesiásticos.
As tropas Espanholas, Francesas e Inglesas andaram por ali e por Martinchel no período das Invasões Francesas. A freguesia enviou 18 dos seus filhos à I Grande Guerra (3): voltaram todos sãos e salvos. Mais tarde, outros foram para a África e para a Ásia: também voltaram. Mas é a década de sessenta que marca o êxodo para Lisboa e a consequente (quase) desertificação social, cultural e humana.
Não temos a verdade final ou definitiva dos factos ou das coisas. Este trabalho é, pois, um subsídio aberto a quem pretender ou puder complementá-lo. Mas é, também, uma espécie de atitude natural e legítima de quem não esquece a sua terra de origem, num espaço cercado de pinheiros e de céu estrelado, com o rio Zêzere ali ao lado, e as terras do outro lado do rio com o seu ar distante e de mistério.
Mas muitas coisas mudaram, inevitavelmente. Os pinheiros indefesos foram cedendo aos incêndios e aos eucaliptos; os serradores abalaram; os pastores foram-se embora; os ferreiros e os ferradores também não voltaram e deixaram as suas marcas em nomes e em alcunhas.
Para elaborar este trabalho fizemos um apelo à memória; ouvimos histórias contadas pelos mais velhos; folheamos livros; consultamos documentação; fomos aos cemitérios para ler e registar inscrições nas campas funerárias, gravadas em pedra e em chapas metálicas.
É neste quadro que iremos procurar recuar no tempo e tentar reconstituir aspetos demográficos e sociológicos da Aldeia do Mato, formulando hipóteses ou confirmando longínquas certezas em termos de natalidade, antroponímia, nupcialidade, mortalidade, religiosidade, etc., neste espaço temporal de 52 anos.
Eis uma amostra resumida de elementos relativos a este período:
 . Assentos de Batizado: 1214.
 . Assentos de Casamento: 333.
 . Assentos de Óbito: 744.
 . Pedro Ignácio de Mattos, de Aldeia do Mato, foi padrinho 21 vezes!
 . Exaltina foi o nome posto a 4 crianças do sexo feminino, mas 258 tiveram por nome Maria.
 . A profissão (ou ocupação) mais usual era trabalhador, mas havia serradores, sapateiros, ferradores, cingeleiros...
 . O Padre Joaquim Lopes Várzea, Pároco em Aldeia do Mato, faleceu ali a 20 de Novembro de 1871, com 70 anos...
 . Ana Paulina deteve o record de longevidade: faleceu com 115 anos, em 11 de Abril de 1901, na Carreira do Mato. Viúva de Manuel Francisco Malhadeiras, era filha de José Paulino e de Maria Francisca, e nascida em Cabeça Gorda.
A matéria disponível seguir-se-á ordenada em capítulos, com o tratamento e com a análise que soubermos e pudermos conferir-lhe.

(1)   Data de Maio de 1208 um documento assinado entre a Ordem do Templo e o Prior do Convento de Santa Cruz, de Coimbra, a propósito da exploração dos recursos do Rio Zêzere, na zona de Martinchel.
(2)   Sousa, Tude Martins de e Rasquilho, Francisco Vieira – “Amieira do Antigo Priorado do Crato, IN    Casa da Moeda, edição fac-similada da versão de 1936.
(3)   Há quem não esteja de acordo com este número, que decorre de apontamentos e informações de outras pessoas, algumas que já não estão entre nós. Ainda não foi possível aceder aos registos do Arquivo Histórico Militar, para confirmar.      
 
Manuel Paula Maça

manoel.maza@gmail.com

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