SÃO MARTINHO: HISTÓRIA E TRADIÇÃO
Tendo como pano de fundo a memória dos tempos que passaram, recordamo-nos de que 11 de Novembro era o dia da prova do vinho. É certo que a nossa população activa se repartia, já, por Lisboa e arredores, e a solução era antecipar ou adiantar o fim-de-semana para vir “à terra” dar substância à expressão “pelo S. Martinho vai à adega e prova o vinho”. Vinha-se, assim, apreciar e partilhar com os amigos aquilo que estava no barril de madeira desde meados de Setembro, ou lá perto. Claro que, não raro, estas provas e atitudes de partilha por vezes eram generosas, mas nem por isso a mitologia retirou ao deus Baco os atributos que lhe cabem por direito histórico.
Até nós, adolescentes, fazíamos discretas, sorrateiras e fugidias incursões nestas andanças, com o fulgor e o atrevimento que a idade nos consentia. Não raro, éramos os primeiros a provar, com o velho recurso à palhinha!
Segundo a bibliografia de que dispomos, S. Martinho terá nascido em Sabária da Panónia, actual Hungria, porventura em 316 ou 317. Era filho de um oficial do exército romano, foi educado em Paris e feito soldado, pelo pai, contra a vontade própria.
Uma vez, em Amiens, teria rasgado a sua capa ao meio para a repartir com um pobre, numa atitude cristã.
Fez-se baptizar em Amiens, em 339, e acabou por entregar-se à vida eclesiástica, ao lado de Santo Hilário, então Bispo de Poitiers. Fundou o Convento Ligugé (o mais antigo das Gálias) e mais tarde (371) foi elevado a Bispo de Tours, sucedendo a S. Gaciano e a S. Lidoire. Fundou o mosteiro de Marmoutier, desenvolveu intensa acção episcopal, fundando paróquias e obtendo conversões em massa. Viveu modestamente, sendo apontado para a sua morte o ano de 397, durante uma viagem pastoral. Achamos escrito que até o demónio estava ao seu lado, cheio de raiva.
Ficou conhecido como São Martinho de Tours, e é representado como legionário romano, a pé ou num cavalo branco; ou como Bispo, com mitra e báculo. Iconograficamente, aparece muitas vezes no episódio em que terá partilhado a sua capa com o mendigo cheio de frio. Segundo o calendário litúrgico, 11 de Novembro é o seu dia.
Existem algumas lendas para "justificar" a ligação de São Martinho (de Tours) ao vinho. Uma delas diz que uma vez alguns amigos o esperavam e ele tardava, acabando por aparecer alegre e com ares evidentes de ter estado a beber vinho...
Seja como for, em muitas religiões e culturas pagãs eram frequentes as festas integradas no calendário agrícola, o que poderia ser o caso na época da trasfega do vinho. Muitas vezes a Igreja Católica assumiu associar-se a estas festas pagãs, num processo de implantação e de conversão. Não sabemos se as castanhas acompanhavam o vinho, pois a lenda e a história interligam-se. Porém, poderão vir daqui as raízes da tradição e do ditado popular "Pelo S. Martinho, vai à adega e prova o vinho!"
Alguns autores referem casos em que a hierarquia da Igreja Católica destituiu S. Martinho de Padroeiro dos seus templos. O santo não terá sido responsabilizado, mas muitas vezes as comemorações e as visitas às adegas conduziam a abusos que terminavam em desavenças e desacatos, com pancadaria.
Sem pretendermos um facto irrefutável, conhecemos um trabalho do Dr. Candeias da Silva, publicado em 12 de Fevereiro de 1985 no jornal "Nova Aliança", a propósito da Paróquia de Martinchel, onde o Arcanjo S. Miguel (actual Padroeiro) poderia ter substituído o pobre do S. Martinho, alguns séculos atrás! O topónimo poderia deixado a marca na raiz Martin, em detrimento da lenda do príncipe mouro convertido Martin-chel. Mas isto são as encruzilhadas da história, onde ao historiador cabe especular com seriedade e no bom sentido, porque mais não pode recuar.
S. MARTINHO, PADROEIRO
Não obstante o que ficou dito, e porque mais não podemos que deixar contributos, em matéria complexa e de fontes escassas acrescentaremos breves dados que encontramos.
S. Martinho de Dume (compatriota do anteriormente referido S. Martinho de Tours), em 1985 passou a padroeiro principal da arquidiocese de Braga, sendo celebrado a 5 de Dezembro. A sua acção tornou possível o 1º Concílio de Braga, em 569, em cuja Sé estão depositadas as suas relíquias, desde 1606.
A rivalidade entre a igreja de Braga e as galegas de Lugo e S. Tiago de Compostela não serão para aqui, mas serão de indubitável interesse histórico.
Ape sar de tudo isto, S. Martinho de Tours continua padroeiro em muitas paróquias de Portugal, de Norte a Sul.
Curiosidade que não nos escapou numa das várias incursões pela Galiza é que na bonita vila piscatória de Grove o tal S. Martinho (de 11 de Novembro) é padroeiro (fotos em baixo). As festas em sua honra são apelativas, quiçá chamativas, como quem continua a dizer “vai à adega e prova o vinho”.
Tendo como pano de fundo a memória dos tempos que passaram, recordamo-nos de que 11 de Novembro era o dia da prova do vinho. É certo que a nossa população activa se repartia, já, por Lisboa e arredores, e a solução era antecipar ou adiantar o fim-de-semana para vir “à terra” dar substância à expressão “pelo S. Martinho vai à adega e prova o vinho”. Vinha-se, assim, apreciar e partilhar com os amigos aquilo que estava no barril de madeira desde meados de Setembro, ou lá perto. Claro que, não raro, estas provas e atitudes de partilha por vezes eram generosas, mas nem por isso a mitologia retirou ao deus Baco os atributos que lhe cabem por direito histórico.
Até nós, adolescentes, fazíamos discretas, sorrateiras e fugidias incursões nestas andanças, com o fulgor e o atrevimento que a idade nos consentia. Não raro, éramos os primeiros a provar, com o velho recurso à palhinha!
Segundo a bibliografia de que dispomos, S. Martinho terá nascido em Sabária da Panónia, actual Hungria, porventura em 316 ou 317. Era filho de um oficial do exército romano, foi educado em Paris e feito soldado, pelo pai, contra a vontade própria.
Uma vez, em Amiens, teria rasgado a sua capa ao meio para a repartir com um pobre, numa atitude cristã.
Fez-se baptizar em Amiens, em 339, e acabou por entregar-se à vida eclesiástica, ao lado de Santo Hilário, então Bispo de Poitiers. Fundou o Convento Ligugé (o mais antigo das Gálias) e mais tarde (371) foi elevado a Bispo de Tours, sucedendo a S. Gaciano e a S. Lidoire. Fundou o mosteiro de Marmoutier, desenvolveu intensa acção episcopal, fundando paróquias e obtendo conversões em massa. Viveu modestamente, sendo apontado para a sua morte o ano de 397, durante uma viagem pastoral. Achamos escrito que até o demónio estava ao seu lado, cheio de raiva.
Ficou conhecido como São Martinho de Tours, e é representado como legionário romano, a pé ou num cavalo branco; ou como Bispo, com mitra e báculo. Iconograficamente, aparece muitas vezes no episódio em que terá partilhado a sua capa com o mendigo cheio de frio. Segundo o calendário litúrgico, 11 de Novembro é o seu dia.
Existem algumas lendas para "justificar" a ligação de São Martinho (de Tours) ao vinho. Uma delas diz que uma vez alguns amigos o esperavam e ele tardava, acabando por aparecer alegre e com ares evidentes de ter estado a beber vinho...
Seja como for, em muitas religiões e culturas pagãs eram frequentes as festas integradas no calendário agrícola, o que poderia ser o caso na época da trasfega do vinho. Muitas vezes a Igreja Católica assumiu associar-se a estas festas pagãs, num processo de implantação e de conversão. Não sabemos se as castanhas acompanhavam o vinho, pois a lenda e a história interligam-se. Porém, poderão vir daqui as raízes da tradição e do ditado popular "Pelo S. Martinho, vai à adega e prova o vinho!"
Alguns autores referem casos em que a hierarquia da Igreja Católica destituiu S. Martinho de Padroeiro dos seus templos. O santo não terá sido responsabilizado, mas muitas vezes as comemorações e as visitas às adegas conduziam a abusos que terminavam em desavenças e desacatos, com pancadaria.
Sem pretendermos um facto irrefutável, conhecemos um trabalho do Dr. Candeias da Silva, publicado em 12 de Fevereiro de 1985 no jornal "Nova Aliança", a propósito da Paróquia de Martinchel, onde o Arcanjo S. Miguel (actual Padroeiro) poderia ter substituído o pobre do S. Martinho, alguns séculos atrás! O topónimo poderia deixado a marca na raiz Martin, em detrimento da lenda do príncipe mouro convertido Martin-chel. Mas isto são as encruzilhadas da história, onde ao historiador cabe especular com seriedade e no bom sentido, porque mais não pode recuar.
S. MARTINHO, PADROEIRO
Não obstante o que ficou dito, e porque mais não podemos que deixar contributos, em matéria complexa e de fontes escassas acrescentaremos breves dados que encontramos.
S. Martinho de Dume (compatriota do anteriormente referido S. Martinho de Tours), em 1985 passou a padroeiro principal da arquidiocese de Braga, sendo celebrado a 5 de Dezembro. A sua acção tornou possível o 1º Concílio de Braga, em 569, em cuja Sé estão depositadas as suas relíquias, desde 1606.
A rivalidade entre a igreja de Braga e as galegas de Lugo e S. Tiago de Compostela não serão para aqui, mas serão de indubitável interesse histórico.
Ape sar de tudo isto, S. Martinho de Tours continua padroeiro em muitas paróquias de Portugal, de Norte a Sul.
Curiosidade que não nos escapou numa das várias incursões pela Galiza é que na bonita vila piscatória de Grove o tal S. Martinho (de 11 de Novembro) é padroeiro (fotos em baixo). As festas em sua honra são apelativas, quiçá chamativas, como quem continua a dizer “vai à adega e prova o vinho”.
Manuel Paula Maça
manoel.maza@gmail.com
Etiquetas: MARTINCHEL
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