ALDEIA DO MATO - ABRANTES - REGISTOS PAROQUIAIS 1860-1911 - 12
Padre Manuel Lopes Alpalhão
ALDEIA DO MATO 1860 A 1911
(UM
ESTUDO DOS REGISTOS PAROQUIAIS)
(Continuação e conclusão)
12
O Padre
Manuel Lopes Alpalhão
12.1.
Dados Biográficos
Manuel Lopes Alpalhão era natural de Cabeça
das Mós, Sardoal. Desconhecemos a data do seu nascimento. Era filho de José
Lopes Alpalhão e de Mariana Joaquina ou Mariana Maria (não se sabe, ao certo).
Foi ordenado Presbítero a 23 de Maio de 1888.
Por
amabilidade da Câmara Eclesiástica de Portalegre, sabemos que foi nomeado Pároco collado na Igreja de Santa Maria
Magdalena de Aldeia do Mato em 2 de Janeiro de 1901.
Anteriormente teria estado em Mouriscas (29
de Outubro de 1890 a
22 de Setembro de 1897), Panascoso (22 de Setembro de 1897 a 7 de Novembro de
1898), São Facundo (7 de Novembro de 1898 a 14 de Julho de 1900) e Sardoal (14 de
Julho de 1900 a
2 de Janeiro de1901).
Ao ser-lhe aprovada a contagem de tempo (como hoje lhe chamaríamos, em linguagem corrente)
tinha 32 anos, 10 meses e 19 dias ao Serviço da Diocese de Portalegre. A partir
daqui não lhe conhecemos os passos, sabendo apenas que faleceu em 13 de Março
de 1937.
De salientar que
neste período conturbado se criaram vários incentivos à atribuição de pensões e
à aposentação de sacerdotes, no contexto das mutações sociopolíticas ocorridas
a partir da implantação da República, com a chamada “Lei da Separação do Estado
das Igrejas (decreto com força de lei de 20 de Abril de 1911, publicado no
Diário do Governo n.º 92, de 21 de Abril de 1911).
12.2.Testemunhos
de uma vida
Registos
Paroquiais: Saíram das mãos e da pena do Padre Alpalhão
os Registos de Assentos das Paróquias de Aldeia do Mato e de Martinchel,
relativos ao tempo que medeia entre os inícios de 1860 e 1912.
A implantação da República, a 5 de Outubro de
1910, trouxe a eclosão de muitas tensões e divergências acumuladas ao longo de
dezenas de anos, e esta questão não pode ser analisada com paixão ou ligeireza,
e menos aqui e agora. O país era cultural e economicamente pobre e atrasado,
com um domínio excessivo da igreja (católica), já que nem registos civis
existiam! Os excessos ocorreram de ambos os lados, e com a distância imposta
pelo tempo podemos olhar mais racionalmente as coisas. De qualquer modo, antes
de entregar os documentos ao registo civil, o Padre Alpalhão teria compilado os
registos, deixando assim o testemunho possível para estes 52 anos de vida das
Paróquias de Aldeia do Mato e de Martinchel.
Um
Lagar em Martinchel: Em 1908 o Padre Alpalhão tinha um
lagar em Martinchel.
Não conseguimos apurar se o construiu de raiz ou se o
adquiriu, mas há indícios de que, para a época, terá sido uma moderna unidade
de produção de azeite.
A propriedade teria passado para o Sr. Manuel
Constantino, e daí por toda uma série de herdeiros, tendo alguns chegado a ser
donos de 1/80 da totalidade! Atualmente, o proprietário é o Sr. Francisco Maria
Barreiro, que o transformou num agradável café e restaurante, preservando com
carinho e com sensibilidade muitos dos utensílios e apetrechos que serviram o
velho lagar. O nome simples, sugestivo e bem português de A Prensa é um adequado e inequívoco tributo à
história da casa e à própria memória do Padre Manuel Lopes Alpalhão, que assim
deixou em Martinchel marca da sua passagem.
Em
Cabeça das Mós: Na sua terra natal falámos com algumas
pessoas e fomos amavelmente recebidos pelo Sr. Joaquim Manuel Alpalhão,
descendente da família. Vimos algumas fotografias e documentos do Sacerdote e,
frente à sua casa, uma pequena Capela com as suas iniciais e a data de
construção: 1898.
Quando lá estivemos, o padre Alpalhão era lembrado pelos
mais idosos. Recordavam-no como um amigo da terra, e lamentam que após o 25
de Abril de 1974 tenha sido retirada uma placa com o seu nome. Nesse lugar está
hoje uma outra placa que diz Largo
do Comércio.
12.3. A
Implantação da República e duas cartas curiosas:
Embora tá tenha sido feita alguma divulgação
isolada da correspondência do e para o então bispo de Portalegre, fica
novamente a sua transcrição, porventura com adequado enquadramento.
12.3.1. Uma
Carta do Bispo de Portalegre...
Com data de 21 de Outubro de 1914, a Diocese de
Portalegre enviava ao Padre Alpalhão uma carta pedindo "...um relatório de tudo quanto soffreu e a sua egreja, desde a
implantação do novo regimen. Indicando o nome de pessoas e dados; origem dos
processos e sua importancia; tempo de prisao, exílio e motivos d'estes; tempo
em que esteve fechada a sua egreja e causas d'este fecho; e tudo o mais que
julgar conveniente, afim de serem angariados documentos para a história
eclesiástica d'este período que atravessamos".
Esta carta era subscrita pelo Bispo D. António
(D. António Moutinho foi Bispo da Diocese de Portalegre de 1909 a 1915).
12.3.2.
...e a Carta Resposta do Padre Alpalhão:
A resposta do Prior Manuel Lopes Alpalhão tem data de 24 de Outubro de 1914 e
diz: "Dando cumpr.to ao officio de
S. Exa. Revma. de 21 do corrente, tenho a honra de comunicar-lhe que a minha
egreja, desde a implantação do novo regimen, até esta data, ainda nada soffreu;
nunca foi fexada, estando sempre, até hoje patente ao culto catholico. E nem
catholico algum da minha fregª foi preso ou processado; todos os catholicos têm
concorrido ao culto com a maxima liberdade. É qtº se me offerece a dizer a S.
Excª Revma. Deus guarde a S. Excª Revma".
Na transcrição fica respeitada a ortografia
utilizada. As palavras fechada e fexada estão assim escritas.
Estes documentos parecem-nos de uma
importância extrema. Sendo a resposta do Padre Alpalhão tão clara e tão breve,
ela não será, sobretudo, cautelosa?
Qual seria, no fundo, a sua posição perante a causa republicana? Qual a
necessidade de vincar que todos os
católicos têm concorrido ao culto com a máxima liberdade? Ou será que - como estamos em crer - de facto as nossas
populações não viram reprimida a sua liberdade religiosa, até pela localização
geográfica e por razões socioculturais? Estas e outras são questões que ficam
no ar.
Ainda assim, com o passar dos anos e
perante novos dados, hoje parece claro que o padre Alpalhão seria um adepto da
causa monárquica e que não foram pacíficas as suas relações com o poder
instituído pela República. Ainda assim, há um documento redigido e assinado por
ele, em momento de maiores tensões, em que afirma ser um “democrata sincero”!
Pode ser que mais adiante, noutra
abordagem histórica da nossa terra, se retome mais desenvolvidamente este
problema das relações entre a paróquia e o poder instituído no contexto da I
República.
Este trabalho termina aqui.
Manuel Paula Maça
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